sexta-feira, setembro 11, 2009

Histórico Português evita despromoção

O Boavista, oito anos após conquistar o único título nacional e de se mostrar na Liga dos Campeões e na Taça UEFA, evitou hoje, "in extremis", a descida aos distritais do futebol português.

Mergulhado numa grave crise financeira, o agonizante Boavista - punido em 2008 com a descida à Liga Vitalis no âmbito do processo "Apito Final" e despromovido à II Divisão em 2008/09 - conseguiu à última da hora adiar os impedimentos e inscrever a equipa.

Após "tocar o céu" com o inédito título de campeão nacional de 2000/2001, de passar à segunda fase de grupos da Liga dos Campeões, em 2001/02, e atingir as "meias" da Taça UEFA, em 2002/03, o clube caiu vertiginosamente.

Enterrado em dívidas, com vários pedidos de insolvência da sua SAD de futebol, com o nome envolvido em processos de coacção a árbitros e sem dinheiro, o clube mais inglês de Portugal está a pairar no abismo.

O passivo do Boavista ronda os 90 milhões de euros, 30 da SAD e 60 do clube (muito por culpa das obras do novo Bessa), sendo que deste montante cerca de 14 milhões são devidos ao Fisco e Segurança Social.

As tentativas ao longo dos últimos anos para encontrar investidores para o clube revelaram-se infrutíferas, bem como as iniciativas levadas a efeito para alertar para a crise e reunir fundos.

Para agudizar a crise, e aumentar um parágrafo na página negra da sua história, o clube viveu dias atribulados com a miragem do alegado investidor Sérgio Silva, embrulhado na falsa promessa de injectar de imediato 38 milhões de euros.

Salários em atraso, passes de jogadores e estádio do Bessa penhorados, ameaças de greve devido a incumprimento, processos em tribunal e uma atribulada ginástica financeira sufocam lentamente o clube.

Após quase três décadas de presidência da família Loureiro, de Valentim e do filho João, o Boavista elegeu o sucessor, Joaquim Teixeira, a 17 de Novembro de 2007, que por sua vez foi substituído por Álvaro Braga Júnior, em 2008.

A acrescer à instabilidade no clube, a Liga instaurou três acções disciplinares no âmbito do processo desportivo "Apito Final", que resultam do judicial "Apito Dourado", sobre alegada corrupção no futebol português.

Das conclusões do "Apito Final", a Comissão Disciplinar da Liga condenou à descida de divisão o Boavista, igualmente punido, em cúmulo jurídico, com uma multa de 180.000 euros. O antigo presidente João Loureiro foi punido também com uma suspensão de quatro anos e uma multa de 25.000 euros.

O Boavista foi acusado de coacção sobre a equipa de arbitragem de três jogos disputados na época de 2003/2004 - com o Benfica, Belenenses e Académica -, sendo condenado à despromoção à Liga de Honra.

Uma auditoria às contas do clube "axadrezado", embora não tendo ainda sido validada pela direcção, aponta para actos grosseiros de má gestão nos últimos anos e lançou ainda mais o descontentamento e revolta no Bessa.

O segundo mais representativo clube da cidade do Porto, atrás do FC Porto, trilha as pisadas do Salgueiros, que, atolado em dívidas e sem património, foi obrigado a extinguir o futebol profissional.

As bases para o crescimento desportivo e de infra-estruturas do Boavista, que atingiu a maioridade com a conquista do título de campeão da Liga em 2000/2001, foram lançadas no início da década de 70.

É a partir desta altura que o "Boavistão" inicia a sua ascensão e ultrapassa fronteiras com a estreia na Taça das Taças, em 1975/76, pelas mãos do treinador José Maria Pedroto, frente aos checos do Spartak Trnava.

Valentim Loureiro, Major de carreira no Exército, com comissões de serviço em Angola, na década de 60, subiu à presidência do clube "axadrezado" em 1978, mantendo-se em funções até passar a pasta ao filho, em 1997.

Em 2000, seguindo a estratégia de constituição de um grupo empresarial, o Boavista formou uma SGPS e uma Sociedade Anónima Desportiva (SAD), para gerir todo o futebol (profissional e formação) e logo no primeiro ano conquistou o título.

Nas competições da UEFA, o Boavista soma 19 presenças (Liga dos Campeões, Taça das Taças e Taça UEFA), tendo disputado um total de 100 jogos. Venceu 38, perdeu 38 e empatou 24, tendo marcado 130 golos e sofrido 116.

Salvo raras excepções, o Boavista tinha lugar cativo anual nas competições da UEFA, sendo de realçar a passagem à segunda fase da Liga dos Campeões, em 2001/02, ombreando com colossos como Liverpool, Manchester United e Bayern Munique.

No trágico 11 de Setembro de 2001, escassas horas após o atentado ao World Trade Center, em Nova Iorque, o Boavista empatou a 1-1 com o Liverpool, em Anfield Road, com o centésimo golo europeu "axadrezado" a ser marcado por Elpídio Silva.

Baptizado na Europa do futebol pelo Inter de Milão como "o clube das camisolas esquisitas", o Boavista teve como ponto alto a presença nas meias-finais da Taça UEFA, 2002/2003, caindo aos pés dos escoceses do Celtic.

Os escoceses perderiam na final de Sevilha com o FC Porto, que vingou assim a eliminação do "vizinho" Boavista, com quem troca, habitualmente, alguns jogadores, como Pedro Emanuel, Bosingwa, Raul Meireles, Ricardo Costa, Artur, Timofte e Jorge Couto.

Para a história do clube ficam, entre outros, os treinadores José Maria Pedroto, Manuel José, João Alves, Zoran Filipovic e, obrigatoriamente, Jaime Pacheco, responsável pela conquista do único campeonato "axadrezado".

Passaram, ou nasceram no clube, jogadores como João Alves, Carlos Manuel, Diamantino Miranda, João Vieira Pinto, Petit, Nuno Gomes, Ricardo, Alfredo, Erwin Sanchez, Ion Timofte, Coelho, Litos, Paulo Sousa (defesa), Frederico, Bobó, Ricky, Rui Casaca, Latapy, Quevedo, Frederico e Jimmy Hasselbaink.

Do palmarés do Boavista fazem parte um campeonato da Liga (2000/01), cinco Taças de Portugal (1974/75, 75/76, 78/79, 91/92 e 97/97), três Supertaças (78/79, 91/92 e 97/97), um campeonato da II Liga (1936/37) e um da II Divisão B (1949/50).